Em carta, Elize diz estar ‘arrependida’ por matar e esquartejar o marido

Ela escreve que sua vida foi um conto de fadas ‘às avessas’. Carta foi escrita quando ela ainda estava presa na cadeia de Itapevi.

A reportagem do Fantástico teve acesso a trechos exclusivos de uma carta escrita por Elize Matsunaga, assassina confessa do empresário Marcos Matsunaga, dentro da cadeia. Elize revela que não vivia bem com o marido e que se arrepende de tê-lo matado e esquartejado.

Elize é ré no processo no qual é acusada do assassinato de Marcos. Segundo a perícia da Polícia Técnico Científica, a bacharel atirou no marido e o esquartejou ainda quando ele estava vivo, na noite de 19 de maio, um sábado. Ela responde presa pelos crimes de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe (vingança), recurso que impossibilitou a defesa da vítima (o empresário foi baleado quando voltava ao apartamento com uma pizza), meio cruel (usou uma faca para cortar o pescoço do marido quando ele ainda estava vivo) e ocultação de cadáver (colocou as partes do corpo em sacos plásticos e os jogou em Cotia).

Uma mulher que era humilhada e tinha medo de morrer: é assim que Elize Mastunaga descreve como era sua vida de casada exatamente um mês depois de matar e esquartejar o corpo do marido, o diretor-executivo da indústria de alimentos Yoki, Marcos Matsunaga.

É uma carta, escrita à mão, quando Elize ainda estava na cadeia de Itapevi, na Grande São Paulo. Ela compara sua vida às histórias de princesa, mas diz que seu conto de fadas foi às avessas.

“Não me lembro de ter lido em ‘Cinderela’ que o príncipe a humilhava. Não me lembro de ter lido que o príncipe tirou a princesa do lixo e que ela deveria, por conta disso, ser submissa às suas vontades pervertidas e humilhantes porque se tornara sua esposa. Não me lembro de ter encontrado em algum capítulo que mulher é descartável”, escreveu.

Acusação

Na carta, Elize diz que teve medo de morrer e faz uma acusação grave: conta que Marcos havia tentado matar a ex-mulher. “Não me lembro de ter lido em contos que a princesa era ameaçada de morte pelo príncipe e que sentia um medo imenso de acontecer o mesmo que aconteceu com sua ex-esposa, porém dessa vez não iria errar”, escreveu.

Elize tinha feito a revelação a uma pessoa muito próxima ao casal um mês antes do crime. A reportagem do Fantástico também teve acesso ao depoimento desta testemunha. Ela conta que recebeu em abril um e-mail em que Elize diz temer pela própria vida, já que Marcos havia tentado matar a ex-mulher.

A reportagem do Fantástico obteve também a íntegra da confissão de Elize à polícia. Nesse depoimento, ela repetiu a história e deu detalhes: disse que, enquanto eram amantes, Marcos contou que havia colocado veneno em um remédio da primeira mulher, que ela ingeriu o comprimido e passou mal, mas foi socorrida.

Para o advogado da família Matsunaga, Luiz Flávio Borges D’Urso, presidente da Ordem dos Advogados Brasil (OAB) de São Paulo, a acusação não tem fundamento. “Não existe nenhuma base nisso, nada. Acho que isso vem dentro do contexto de uma sucessão de mentiras que ela foi criando para construir diante de uma confissão na qual ela não encontrou outra oportunidade senão aquela de confessar, neste conjunto que ela foi criando, nesta cena, ela introduz mais uma informação para a qual não há nenhuma base”, diz Luiz Flávio Borges d’Urso.

A reportagem do Fantástico procurou a primeira mulher de Marcos, mas ninguém na casa dela atendeu a reportagem.

Receio

No interrogatório, a polícia perguntou se Elize teve medo de ir morar com Marcos. Ela respondeu que amava o marido e que ele dizia que nunca faria nada de mal com ela. Elize declarou também que tinha receio de ser traída, mas que Marcos dizia que não agiria assim.

Para o promotor, Elize matou o marido porque foi traída e queria ficar com o dinheiro dele. “Nossa convicção é uma só: claramente, o medo de perder o casamento e, com essa perda, perder o patrimônio. Se o marido morresse, ela teria o seguro de vida dele. Teria o seguro de vida da filha, ou seja ficaria com uma criança rica, com o seguro de vida dela e da filha”, diz o promotor José Carlos Cosenzo.

“Eu acho, aliás, que essa alegação é um verdadeiro absurdo, porque o seguro de vida de Marcos não era um seguro de vida milionário. Era um seguro de vida de uma pessoa da classe média, um seguro de vida simples”, defende o advogado de Elize, Luciano Santoro.

Para o advogado de Elize, foi um crime passional. “Começou com a questão da traição. Ela chegou a desferir o tiro no momento de uma intensa provocação de Marcos a ela”, diz Santoro.

Confissão

Em sua confissão, Elize deu detalhes do momento do crime e contou por que decidiu esquartejar o marido. Afirmou que era a única forma de se livrar do corpo, já que ele era muito pesado. Usou uma faca que estava na gaveta da cozinha. Chegou a parar no meio porque estava muito difícil. Elize relatou que limpou o sangue espalhado pela casa e que depois lavou os panos de chão.

A reportagem do Fantástico conseguiu trechos inéditos do depoimento de Mauro Matsunaga, irmão do executivo morto. Ele diz que, dois dias depois do crime, Elize procurou os sogros. Segundo Mauro, Elize informou que o marido não tinha dormido em casa e mostrou imagens dele com outra mulher.

Mauro contou que, cinco dias mais tarde, ele e dois funcionários da Yoki foram ao prédio de Marcos e Elize, porque queriam ver as imagens das câmeras de segurança. Pediram uma pizza. Elize os convidou para comer no próprio apartamento. Na cozinha, um dos funcionários viu um saco de lixo semelhante aos encontrados com as partes do corpo de Marcos. Essa foi uma das informações que fizeram a polícia suspeitar de Elize.

Na última quinta-feira (21), o pai de Marcos foi pela primeira vez ao apartamento onde o filho foi assassinado. Reencontrou a neta de um ano, que continua sob os cuidados de uma tia de Elize. A família de Marcos se comprometeu a manter o mesmo padrão de vida que a menina tinha quando vivia com os pais.

Com a prisão preventiva decretada, Elize foi transferida na quarta-feira (20) para a Penitenciária de Tremembé, no interior do estado. É lá que estão Suzane Richthofen, condenada por matar os pais, e Anna Carolina Jatobá, que cumpre pena pela morte da enteada, Isabella Nardoni.

Nos primeiros 15 dias, Elize vai ficar sozinha em uma cela de sete metros quadrados. Depois, vai dividir o espaço com seis mulheres. Ela vai responder por homicídio triplamente qualificado e pode pegar de 6 a 30 anos de prisão.

Na carta que escreveu na cadeia, Elize diz que se arrepende. “Eu não tenho o direito de tirar a vida de ninguém, e nada justifica isso. Mas também sei que tenho o direito de defender a minha vida e principalmente a minha filha. Me arrependo por ter sido tão injusta e ter cometido algo que não posso voltar. Me arrependo por aquele ato impensado que só trouxe o caos. Já estou pagando pelo que fiz e com a moeda que eu mais temia: ficar longe da minha filha.”

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