Na quarta-feira (28/nov), ele era presidente em exercício. Na quinta e na sexta, já no Peru, representante do Brasil na Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da União de Nações Sulamericanas (Unasul). Em 1º de dezembro, o compromisso era a posse do novo presidente do México, Enrique Peña Nieto. Esse pequeno corte na agenda do vice-presidente da República Michel Temer mostra bem a importância do papel que exerce no governo federal. Reconhecido pela habilidade política, foi deputado por seis mandatos e por três vezes presidiu a Câmara dos Deputados, além de presidir há mais de uma década o maior partido do país, o PMDB. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo, possui o título de Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Temer concedeu essa entrevista exclusiva à rede formada pelos Diários da ADI-BR/Central de Diários e afirmou: O Brasil mudou sensivelmente sua imagem no exterior. Hoje, o estrangeiro vê nossas instituições totalmente solidificadas, porque elas vivem em harmonia.
Que papel o senhor tem desempenhado no governo federal?
Temer – O papel do vice-presidente da República está definido na nossa Constituição, que se resume a substituir a presidente, no caso de ausência do país. Também, sou indicado para missões especiais pela presidente, como coordenar o Plano Estratégico de Fronteiras que engloba ações de diversos ministérios, como da Defesa e Justiça, no combate ao crime na faixa de fronteira. Presido comissões bilaterais com a China e a Rússia, que têm o objetivo de melhorar e expandir as relações entre nossos países. Neste sentido, a presidente Dilma tem me designado para missões ao exterior em ocasiões em que ela não pode participar. Foram os casos das viagens para a Coreia do Sul, Líbano, Moçambique, Grã-Bretanha, Paraguai, Turquia, Suécia, Itália, Estados Unidos e Rússia. Destaco minha última viagem à Alemanha, para onde levei um grupo de empresários e mantive reuniões com a chanceler Ângela Merkel, com o presidente da República, Joachim Gauk, e o presidente do Parlamento, Norbert Lammert. E trouxe para o Brasil uma proposta para a criação de um mecanismo bilateral semelhante ao que temos com chineses e russos.
Como avalia a crise financeira internacional e os efeitos sobre o Brasil?
Temer – Nesta viagem à Alemanha, confirmei um sentimento que já temos no governo: o de que o Brasil deve encarar esta crise com toda responsabilidade, mas também como uma oportunidade. Os alemães querem aproveitar a saúde e a potencialidade de nossa economia para ajudá-los a sair da crise em que está a Europa. Isso se daria por meio do incremento de investimentos alemães no Brasil e vice-versa. Há, também, a expectativa de que possamos investir nos países europeus em que os efeitos da crise são mais agudos, como Espanha e Portugal. E foi, justamente, na Espanha que a presidente Dilma e o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, falaram sobre o aumento do comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Portanto, não descuidamos dos efeitos da crise no nosso país e estamos voltados para sair dela maior do que entramos.
O investidor estrangeiro já vê no Brasil um ambiente seguro do ponto de vista econômico, jurídico e político?
Temer – O Brasil mudou sensivelmente sua imagem no exterior. Hoje, o estrangeiro vê nossas instituições totalmente solidificadas, porque elas vivem em harmonia. Nossa democracia tem servido de exemplo para outros países. Eleição após eleição, damos mostra de um amadurecimento absoluto, cenário muito próspero para quem quer investir. Do ponto de vista econômico, tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza e estamos nos tornando um país de classe média. Esse grande mercado interno, em ascensão, é um forte atrativo para empresas daqui e as de fora. Porque esta nova classe média está consumindo cada vez mais, o que obriga a um grande incremento na produção.
As medidas econômicas do governo federal para diminuir os efeitos da crise são suficientes? Ou virá mais?
Temer – O governo agiu e age prontamente para evitar maiores efeitos da crise europeia. Apesar de vermos outros países entrando em recessão, nosso país vai crescer em 2012. Nossa indústria está se recuperando. E isso deve ser creditado às medidas que temos tomado. Contamos muito com nosso mercado interno para alavancar a produção industrial. Mantivemos a diminuição de impostos para eletrodomésticos e automóveis e facilitamos, de forma responsável, o acesso ao crédito. Hoje, vemos os juros nas menores taxas históricas e a inflação sob controle. A expectativa é de que 2013 será um ano melhor do que 2012.
O setor produtivo fala muito na baixa competitividade por causa do Custo Brasil. Haverá um esforço para desoneração?
Temer – Já estamos no caminho da desoneração. Temos a baixa temporária para o IPI de diversos produtos, e promovemos a desoneração sobre a folha de pagamento, o que se reflete positivamente no faturamento de empresas de diversos setores e estimula a criação de novos empregos, a partir de janeiro do ano que vem. Para o governo, será uma renúncia fiscal de R$ 60 bilhões em quatro anos. Um grande atrativo para empresas nacionais já instaladas e para as que vierem a se instalar por aqui.
O país está no caminho certo para a retomada do crescimento?
Temer – Todo conjunto de medidas que o governo está tomando para atrair investimentos estrangeiros, melhorar nossa infraestrutura, desonerar o empresário, diminuir o custo dos produtos industriais e da energia elétrica e facilitar o acesso ao crédito tem tido resultados visíveis. Além de todos os índices macroeconômicos mostrarem uma economia saudável, repito, num cenário de crise internacional, vemos que grandes empresas globais anunciam investimentos no Brasil. Em novembro, tive o prazer de participar da inauguração de uma unidade da Hyundai em Piracicaba, no interior do estado de São Paulo, um investimento de US$ 700 milhões. E, em outubro passado, a BMW anunciou a abertura de uma fábrica em Santa Catarina, no valor de US$ 260 milhões. São sinais de que estamos no caminho certo.
Créditos das Fotos:
Abertura: Aluízio de Assis