Imagine consumir tomates que contenham maior número de minerais que podem auxiliar na prevenção de doenças como a desnutrição e a anemia. Com a utilização da técnica conhecida como biofortificação agronômica é possível. No Sertão baiano esse procedimento se tornou o principal objetivo de um estudo desenvolvido pelo Programa de Pós – Graduação Mestrado em Horticultura Irrigada (PPHI) do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) no Campus III da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), localizada na cidade de Juazeiro, que fica no Norte do Estado.
A pesquisa realizada pela mestranda da Uneb Keylan Silva Guirra, sob a orientação do professor de Olericultura do DTCS, Carlos Alberto Aragão, buscou utilizar dosagens diferenciadas de adubos feitos à base de Sulfato Ferroso e Sulfato de Zinco em sementes e mudas de tomates, que são conhecidas pelos sertanejos da região do Vale do São Francisco como o híbrido Tyna e uma cultivar popular Caline IPA 6.
Esse processo chamado de Biofortificação Agronômica consiste em uma técnica que ajuda a aumentar o número de nutrientes na planta a partir da utilização adequada de adubos. De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), os alimentos biofortificados produzidos no Brasil são: o milho; a batata-doce; o feijão caupi; a mandioca; a abóbora; o trigo; o feijão; e o arroz.
Keylan conta que o interesse em realizar o estudo com esse tipo de procedimento se deu após conhecer trabalhos realizados em Moçambique, na África e no Brasil, pela Embrapa.
O orientador da pesquisa Carlos Alberto Aragão reforça que o estudo está em fase embrionária e que posteriormente poderá ser feito com outros vegetais. “Recentemente começamos a trabalhar com a linha de pesquisa voltada para o que chamamos de alimentos funcionais ou biofortificação que visam aumentar taxas de elementos importantes para o organismo humano através do uso da fertilização das plantas”, disse.
ESTUDO – A mestranda da Uneb explicou que as sementes e as mudas de tomateiro foram tratadas com dois tipos de adubos minerais: o sulfato ferroso e sulfato de zinco, com aplicações de dosagens que variavam de zero a 20%. Segundo Keylan, as diferentes concentrações de minerais foram feitas com o objetivo de observar a tolerância das sementes e das mudas aos percentuais de cada elemento. Para ela, a semente se tornaria um vetor que carregaria micronutrientes que auxiliariam na redução do uso de adubos sintéticos na cultura do tomate. “Meu objetivo é o de biofortificar o tomate partir tratamento inicial de sementes e mudas. O foco é agronômico e também nutricional”, disse.
Após a aplicação das concentrações de zinco e de ferro nas sementes de tomate, Keylan observou que as plantas não germinaram e percebeu, também que as dosagens de sulfato ferroso e de zinco queimavam a semente e impedindo o seu desenvolvimento. “O tratamento utilizado nas sementes não foi viável para a cultura do tomate porque prejudicou o desenvolvimento de plântulas normais. Para que o experimento dê certo é preciso que a planta tenha um bom desenvolvimento tanto da parte aérea quanto das raízes, que não podem ser atrofiadas e nem deformadas. Se não seguir essas circunstâncias, a planta pode não resistir às condições adversas do campo e consequentemente mesmo que germine, não irá promover o bom estabelecimento de mudas”, afirmou.
Nos experimentos desenvolvidos com mudas de tomate, a mestranda da Uneb percebeu que as aplicações dos adubos produziram bons resultados nos aspectos relacionados ao tamanho e formato das plantas. “As mudas de tomateiro apresentaram um bom desenvolvimento das raízes, da parte aérea e massa seca de plâtula. Esses resultados foram satisfatórios, pois indicam que é possível nutrir a planta de maneira funcional, o que nos deixa entusiasmados com possibilidade de levar esses nutrientes para quem consumir ”, destacou.
FOCO NUTRICIONAL – Para o ser humano, o consumo de ferro e zinco presentes no tomate, pode trazer inúmeros benefícios. É o que afirma o professor de Olericultura do DTCS, Carlos Alberto Aragão. “O ferro é um componente fundamental da hemoglobina e de algumas enzimas do sistema respiratório. A deficiência deste mineral pode resultar na anemia. O Zinco ajuda a manter o sistema imunológico sadio, facilita a cicatrização de machucados e recuperação de lesões.”, disse.
Ele também reforça que a biofortificação agronômica em hortaliças como o tomate pode representar a redução de custos para o produtor rural na compra de adubos.
“A técnica atenderá não só a região mas, um universo muito maior. Mas, pensando em alimentos, hortaliças e fruteiras que possuem carência nutricional, pensamos que seria possível incorporamos maiores teores de nutrientes nas plantas para torná-las mais ricas em Ferro, Zinco, Cálcio, Vitaminas do Complexo A, B, etc, sem, necessariamente, fazermos melhoramento genético, apenas adubação”, finalizou.
Fonte: ASCOM DTCS/UNEB