O Grito dos Excluídos, mobilização nacional que ocorre, tradicionalmente, no dia 7 de setembro, quer, nesta 21ª edição, marcar posição contrária ao que chamam de “atual ofensiva conservadora”. Os organizadores, entre eles a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), chamam atenção para manifestações recentes no país que pediram a volta da ditadura, para medidas governamentais que reduzem o investimento em áreas sociais e o discurso midiático de criminalização de movimentos sociais.
“Podemos ter a reação de ir à luta para sair da crise ao lado do povo ou podemos ter reação daqueles que querem que o Brasil volte para trás. Nós não estamos do lado daqueles que querem o “quanto pior, melhor”, daqueles que não aceitam a democracia, que não aceitam o resultado das eleições. Queremos criticar para avançar, não criticar para retroceder”, afirmou Dom Pedro Luis Stringhini, bispo de Mogi das Cruzes, vice-presidente da Regional Sul da CNBB.
O movimento deve divulgar amanhã (4) um mapa com as atividades previstas para o feriado de 7 de setembro. Já se sabe que, em São Paulo, o ato ocorrerá na Praça da Sé, às 8h. Haverá também uma atividade encabeçada por movimentos de moradia da capital paulista, marcada para a Praça Oswaldo Cruz, na Avenida Paulista.
Rosilene Wansetto, da coordenação nacional do Grito e da Rede Jubileu Sul Brasil, disse que as atividades são organizadas espontaneamente, e que todas que seguem a proposta do lema e do tema propostos são agregadas ao Grito. “Não há uma convocação oficial”, disse. As manifestações vão ocorrer em todas as capitais, além de cidades do interior, segundo ela. No ano passado, cerca de 200 localidades participaram da mobilização.
Este ano, a mobilização tem como lema “Que país é este, que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”. “Ele é muito sugestivo para o momento que vivemos no país. [A proposta] é trazer toda a crítica e o debate para as ruas, porque é lá que se constrói a política, na nossa compreensão”, afirmou Rosilene Wansetto. O lema tem expressão em cinco eixos, que discutem temas como diferentes formas de violência, da forma como a mídia contribui para a violação de direitos e o papel no Estado na condução de reformas estruturais.
De acordo com a coordenação, os assuntos abordados na campanha do Grito são trabalhados durante todo o ano em debates e rodas de conversa para, então, culminar em manifestações populares pelo Brasil, no Dia da Independência. O papel da mídia é uma novidade entre os temas comumente escolhidos.
O jornalista Altamiro Borges, autor de A Ditadura da Mídia, lembrou que o próprio Grito, que ocorre desde 1994, com grande adesão, é invisibilizado pelos grandes veículos privados. “Recentemente, a mídia concentrou muitos dos seus holofotes em manifestações que pediam a volta da ditadura”, disse. Borges avalia que a mídia poderia contribuir para a defesa da vida e para o combate à violência, mas faz o contrário. “Ela estimula consumismo patológico. Esse consumismo é gerador de violência. É individualismo exacerbado”, destacou.
O jornalista criticou o uso político-partidário das informações noticiadas, além das questões econômicas que estimulam a busca desenfreada pela audiência. “[Isso] estimula os piores extintos do ser humano. Vai à procura de audiência, e o que dá é falar de violência. Programas policialescos, que ajudam a aumentar a violência”.
Uma das atividades do Grito dos Excluídos é a tradicional Romaria dos Trabalhadores, que ocorre em Aparecida, há 28 anos. “A religiosidade traz uma força interna essencial na luta”, afirmou Antonia Carrara, da Pastoral Operária. As atividades terão início às 7h no Porto Itaguassu, onde, de acordo com a história, a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi encontrada por pescadores em 1717, e, de lá, as pessoas seguem para o Santuário da padroeira do Brasil. O ato na cidade reforça a característica racial da santa, que é negra. “O tema é Mãe Negra Aparecida, a classe trabalhadora tem sede e luta pelo mundo justo”, acrescentou.
Fonte: Agência Brasil