O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirmou em entrevista coletiva nesta segunda-feira (28) que, nos depoimentos colhidos nos últimos dias, ninguém assumiu ter soltado o sinalizador que pode ter causado o fogo que destruiu a boate Kiss. No total, 231 pessoas morreram no incêndio, que aconteceu no domingo (27), durante uma festa universitária.
“O que temos de concreto é que o sinalizador foi usado e que as portas não deram vazão à saída das pessoas”, afirmou. O delegado disse ainda que, por enquanto, não deverá pedir novas prisões relacionadas ao caso.
Segundo relatos de testemunhas, a banda Gurizada Fandangueira utilizou sinalizadores para uma espécie de show pirotécnico. Faíscas de um equipamento conhecido como “sputnik” atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.
Quatro foram presos nesta segunda após a tragédia e prestaram depoimento: o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr, o sócio, Mauro Hofffmann, e dois integrantes da banda, o vocalista e um responsável pela segurança do palco.
O delegado acrescentou que pode haver a possibilidade de que a banda tenha usado um sinalizador específico para ambientes fechados. “Descobrimos hoje que existem alguns equipamentos para uso em festas. Chama-se fogo frio.” O delegado disse que ainda apura qual tipo de sinalizador foi usado.
Ainda segundo o delegado, esse tipo de equipamento somente é vendido em lojas especializadas em fogos de artifício.
O delegado também comentou sobre o possível desaparecimento de filmagens da boate, que motivaram os pedidos de prisão: “Não sabemos se houve sumiço das imagens. Estamos fazendo diligências para apurar essa circunstância”. O delegado afirmou que a polícia também trabalha com a hipótese de que não haja imagens de circuito interno.
Segundo ele, a polícia vai “esclarecer esse fato”, sem dar detalhes sobre a investigação. “Ela (investigação) vai evoluindo passo a passo”, disse. “Me parece que estamos evoluindo bem”, acrescentou, destacando que o resultado das provas técnicas será decisivo para o inquérito.
Em depoimento no domingo, o dono da boate afirmou à Polícia Civil que sabia que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação.
O advogado Mario Cipriani, que representa Mauro Hoffmann, afirmou que o cliente “não participava da administração da Kiss”.
Na manhã desta segunda, outros dois integrantes da banda falaram sobre a tragédia. “Da minha parte, eu parei de tocar”, disse o guitarrista Rodrigo Lemos Martins, de 32 anos.
Incêndio
O incêndio começou por volta das 2h30 de domingo, durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira. A festa “Agromerados” reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, dos cursos de pedagogia, agronomia, medicina veterinária, zootecnia e dois cursos técnicos.
Amigos e familiares depositaram flores em frente ao prédio da boate. Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, 75 pacientes que se feriram no incêndio correm risco de morte.
Por meio dos seus advogados, a boate Kiss se pronunciou sobre a tragédia, classificando como uma “fatalidade”.
A presidente Dilma Rousseff visitou Santa Maria no domingo e decretou luto oficial de três dias.
O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.