“Adeus Ano velho/Feliz Ano Novo/ Que tudo se realize/No ano que vai nascer/Muito dinheiro no bolso/Saúde pra dar e vender”. Esta música tradicional das festas de Fim de Ano acabou de ser entoada pelos quatros cantos do país, na voz da maioria dos trabalhadores brasileiros tanto dos que apostaram confiantes na “Mega da Virada” e foram felizes quanto os que sequer passaram perto das lotéricas.
Entretanto, o que a maioria já sabe, quando abriu suas caixas de correspondências no último dia do ano, é que agora, em janeiro, já chegaram os boletos do IPTU e IPVA; os recibos de água, luz e condomínio; as anuidades dos Conselhos Regionais (CR’s); as mensalidades escolares; as faturas dos cartões de crédito, etc, etc. Todos de uma única vez.
O economista Antonio Britto Santos relatou, por telefone, um levantamento que fez nos últimos dias de 2019. “A mensalidade escolar pode ter um aumento entre 4 a 10%; o material escolar das crianças pode chegar a um teto de 9,6%, (embora as papelarias revelem aumento de 3,5%); a tarifa de energia elétrica deve ser aumentada em 2,42%; a taxa de água e esgoto em 4,7% e, no caso das mensalidades dos Conselhos Regionais (CR’s), o aumento devera ser de 4,5% (com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)”.
O também diretor da empresa ACBS recorda que, alguns dos gastos anunciados, que fazemos no dia-a-dia, são compromissos financeiros autônomos, ou seja, não tem como deixar de não realizá-los. “Eles fazem parte do nosso orçamento”. Assim como existem gastos financeiros induzidos (os considerados supérfluos). “Aqueles que a mídia nos estimula, e que, geralmente, está acima daquilo que podemos fazer”, discorre.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Para o economista e professor Ivan Gargur, da Faculdade 2 de Julho, em Salvador, a pessoa precisa se programar todo o final de ano para enfrentar esta questão. “Se não houver jeito de pagar as contas, à vista, o ideal é parcelar tudo aquilo o que é possível”. E acrescenta: “A pessoa ou se programa, fazendo uma reserva financeira ou terá, sempre, sérias dificuldades em honrar as novas dividas do Ano Novo, além de outros pagamentos que chegam de, forma inesperada, e que, realmente, incomodam os bolsos. No entanto, é bom esclarecer mais uma coisa: para estar preparado é fundamental fazer previsão, planejamento e antecipação da situação”.
Ivan Gargur lembra, ainda, que quem tem crianças em idade escolar, os pagamentos são previstos e acrescidos a cada ano. “De uma só vez tem: matrícula, fardas e materiais (livros, lápis, canetas e mochilas) a pagar. Neste último caso, sugiro que os pais e mães, com certas afinidades, realizem compras coletivas. Os resultados financeiros, com certeza, serão bem melhores!”
BOLETOS VOADORES
Por sua vez, Antonio Britto reconhece o quanto é difícil para quem vive de salários enfrentar os primeiros dias do Ano Novo com o pacote de boletos e recibos nas mãos. “Eu soube que a Embasa está vivendo um déficit muito severo e que pode ser parcialmente privatizada. Isto pode trazer um aumento maior nas suas taxas de água e esgoto. Que as escolas particulares vão aumentar os preços das mensalidades para mitigar os custos administrativos operacionais, tendo por base a elevação do salário mínimo, que passou dos atuais R$ 998 para R$ 1.039”.
No caso dos materiais escolares, os itens adquiridos pelos estabelecimentos comerciais a preços da moeda americana (dólar) podem sofrer aumentos de até 8%. Já a temporada de matrículas escolares, na rede privada de ensino em Salvador, conforme reportagem de Poliana Antunes, aqui na Tribuna da Bahia, o reajuste referente ao ano letivo de 2020, está com a previsão de pelo menos 8%, quase o dobro da meta da inflação deste ano, que foi de 4,25%.
Poliana diz, ainda, que: “De acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe), no mesmo período do ano passado, o reajuste chegou a 10%”. Diante deste cenário e da realidade da renda familiar do brasileiro, esses e outros aumentos podem ser considerados abusivos e insustentáveis.
Antonio Britto comenta: “Uma vez que o salário do trabalhador brasileiro não é reajustado, nesta mesma proporção, e quando muito, é reajustado com base na inflação oficial, fica mais difícil honrar aumentos sucessivos”. Ele destaca, também, que as contas, de início de ano, incluem, ainda, gastos com seguros de automóveis e muito mais. “E encaixar todas no orçamento só mesmo realizando um sério planejamento financeiro”.
REDUÇÃO DE VALOR
A boa noticia, é que o valor do Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), na Bahia, terá uma redução média de 3,5% em 2020, conforme comunicado do Governo do Estado. “Para os caminhões a redução será de 2,62%; carros de 4,20%; motocicletas, 2,72%”. Diz ainda a nota que ônibus e micro-ônibus o valor será 3,93% menor e que os veículos utilitários, o imposto cairá 4,35%”. Quem pagar antecipadamente tem desconto. O prazo final para a obtenção de 10% de desconto, em cota única, é 10 de fevereiro. Também existe uma opção de pagamento com 5% de desconto para quem fizer a quitação do valor integral do imposto, no dia do vencimento da primeira das três cotas do parcelamento padrão do imposto. Esta data varia de acordo com o número final da placa do veículo.
Juntos os economistas entrevistados comentaram: “Pode ser tarde – ainda este ano de 2020 – para se tomar medidas que possam mitigar o problema de pagamentos deste inicio de janeiro. Todavia, vale lembrar que ainda teremos, em março e abril, o ‘grande encontro’ com o Leão do Imposto de Renda da Receita Federal. Por isso, é preciso ter uma tabela completa nas mãos com renda (receita) e gastos (despesas) bem definidos para prever quais serão os meses com mais custos. O ideal é diluir os pagamentos, guardando algum dinheiro – pouco que seja – em meses em que as contas são menores. Isto, deverá proporcionar no próximo ano um começo de janeiro mais auspicioso!”
Tribuna da Bahia