Dois dias depois de sair do hospital e ainda se recuperando da primeira sessão de quimioterapia para tratar de um câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contrariou a ordem médica de falar pouco. Na manhã de quinta-feira (3/11), ligou “iradíssimo” para o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para se queixar dos resultados brasileiros no Relatório de Desenvolvimento Humano, apresentado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) na última quarta-feira.
A bronca de Lula, desgostoso com os números que mostraram um avanço tímido do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), movimentou Brasília. À tarde, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, reuniu-se com a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, para acertar uma resposta ao Pnud. Em seguida, Tereza convocou, às pressas, uma coletiva de imprensa, na qual reclamou de dados defasados do país utilizados no cálculo do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) — e não no IDH — e afirmou que o governo brasileiro desconhece a metodologia da pesquisa, embora o país participe do levantamento desde a primeira versão, em 1990.
O ex-presidente não teria concordado com os critérios considerados pelos técnicos do Pnud. Falando como se estivesse no governo passado, quando era chefe de gabinete de Lula, Carvalho disse que o ex-presidente teria cobrado uma crítica aos dados. “O presidente ficou preocupado com a primeira visão que houve, nós estamos o colocando a par de tudo que aconteceu. Ele está bem, vigilante e acompanhando cada fato.”