Muitas famílias criaram o hábito de levar os filhos menores ao pronto-socorro em vez de procurarem o consultório do pediatra.
A prática é condenada pelo pediatra Paulo Taufi Maluf Júnior. Segundo ele, o pronto-socorro é um local para atendimento de urgências e emergências, diferente do consultório médico.
“Muitas famílias nem chegam a se vincular a um pediatra fazendo dele a referência para o seguimento das crianças, que deveria se dar não só por ocasião de doenças, mas para supervisão das boas condições de saúde”, afirma o médico do Hospital Sírio-Libanês e do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas.
O médico do pronto-socorro está de plantão para receber casos de gravidade média para alta, mas acaba atendendo crianças em bom estado, com sintomas que já se iniciaram há dias.
“No entanto, os diagnósticos pediátricos necessitam de um tempo de observação, no qual a criança deve ser vista mais de uma vez. Dependendo da evolução do quadro, é possível chegar a um diagnóstico correto e tratamento adequado”, explica o doutor Paulo Taufi Maluf Júnior.
O médico do pronto-socorro não terá a oportunidade de fazer revisões do paciente, mas precisa dar o diagnóstico e o tratamento, que seja eficaz. Com isso em mente, ele acaba pecando por excesso, solicitando exames – como raio-x e tomografia computadorizada, por exemplo – que seriam desnecessários se houvesse tempo para dispensá-los.
O plantonista também pode receitar antibióticos em situações de febre, que, muitas vezes, se origina de uma infecção viral.
Uma pesquisa britânica, divulgada recentemente comprova que crianças submetidas à tomografia computadorizada, com doses de radiação de cerca de 50Mgy, tiveram risco três vezes maior para leucemia. Aquelas que receberam doses de 60Mgy triplicaram o risco de câncer de cérebro, de acordo com o resultado de estudos publicado na revista The Lancet.
Crianças com idade inferior a 15 anos mostraram maior incidência da doença. O câncer de cérebro triplicou com dois ou três exames de tomografia computadorizada e triplicou também o risco de leucemia para aqueles que se submeteram de 5 a 10 tomografias computadorizadas, segundo a pesquisa.
“Diante desta constatação, os médicos devem redobrar os esforços para justificar a realização deste e de outros tipos de exame, como o raio-x, que também emite radiação”, alerta o pediatra do Sírio-Libanês e do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas.
“O pediatra que acompanha a criança como paciente habitual no consultório, consegue solucionar grande parte das enfermidades sem exames, sem remédios específicos, só no acompanhamento da evolução”, esclarece.
O pediatra recomenda aos pais que encontrem um tempo em meio à correria da vida moderna para criar vínculo com o profissional competente. E que a criança só seja levada ao pronto-socorro quando apresentar traumas, febre alta, falta de ar, diarreias e vômitos intensos, além de outros quadros de emergência.
Se o estado da criança é razoavelmente bom, deve-se procurar o consultório e, sobretudo, um pediatra de confiança para recorrer a ele sempre.
Tribuna da Bahia