O ministro do Esporte, Orlando Silva, reiterou ontem (18), durante audiência na Câmara, que não há provas contra ele no caso da denúncia de que participou de um esquema de desvio de verbas do programa Segundo Tempo, destinado a incentivar a prática esportiva entre crianças e adolescentes.
Em entrevista nesta segunda (17) no ministério, Silva havia dito que não há e nem irão surgir provas contra ele. “Não houve, não há e não haverá nenhuma prova das mentiras faladas por esse crimonoso”, disse na entrevista.
O ministro compareceu a audiência conjunta das comissões de Fiscalização e Controle e Turismo e Desporto da Câmara, que durou mais de três horas e meia. A participação do ministro na audiência foi antecipada em razão da denúncia. A antecipação da audiência foi negociada por deputados do PC do B, partido do ministro.
Em reportagem publicada neste final de semana pela revista “Veja”, o policial militar João Dias Ferreira, preso pela Polícia Civil de Brasília em 2010, disse que Silva recebeu um pacote de dinheiro na garagem do ministério, o que ele nega.
“Faça e prove o que diz. Até aqui, esse desqualificado não provou. Não provou porque não tem provas. Quem tem provas do malfeito dele sou eu, que estão aqui”, disse o ministro, brandindo, sob os aplausos de deputados, papéis do processo judicial ao qual João Dias Ferreira responde por suposto desvio de verba pública e enriquecimento ilícito.
O ministro disse ter colocado à disposição da Procuradoria Geral da República (PGR) os sigilos fiscal, bancário e telefônico para que possa ser feita a apuração do caso. “Está tudo aberto”, afirmou Silva, que havia solicitado à PGR que instaurasse uma investigação. Nesta terça, o procurador-geral Roberto Gurgel disse que vai apurar.
Oposição
Ao mesmo tempo em que Silva falava na audiência, Dias Ferreira se reuniu, em outra sala da Câmara, com parlamentares da oposição. Pela manhã, alegando problemas de saúde, o PM pediu o adiamento do depoimento que daria à Polícia Federal.
Após o encontro, o policial militar disse que tem provas e vai apresentá-las. “Vão surgir diversos documentos em breve que vão provar essa situação”, declarou.
O deputado ACM Neto (DEM-BA) afirmou que, no depoimento aos oposicionistas, que classificou como “estarrecedor”, Dias apresentou “provas materiais” contra o ministro. Líder do DEM, ACM Neto disse que não faria nenhuma pergunta a Orlando Silva porque a audiência era um “palanque armado” para que o ministro fizesse sua defesa. Segundo o deputado, o acusador tinha de ser ouvido antes do ministro.
O líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), afirmou que os partidos de oposição apresentarão hoje (19) requerimento para que João Dias Ferreira seja ouvido na próxima quinta (20). “O que foi montado hoje aqui foi uma defesa ampla e plena do ministro. Não se esclareceu nada”, disse Nogueira.
Durante a audiência, o deputado Vaz de Lima (PSDB-SP) sugeriu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Ministério do Esporte e pediu a Orlando Silva que assinasse um requerimento com essa finalidade, como forma de demonstrar inocência. O ministro não assinou. “Não cabe a outro poder [Executivo] se imiscuir no que compete ao outro poder [Legislativo], constranger os parlamentares sobre essa matéria”, justificou Silva.
Interesse ferido
Orlando Silva afirmou que a denúncia é a “reação de um interesse ferido”. “Acusar alguém e não provar é tribunal de exceção. Isso tangencia com o fascismo, tangencia com o autoritarismo”, afirmou aos deputados.
Na fala aos deputados, Orlando Silva rebateu a acusação de Dias Ferreira, segundo a qual o ministro teria proposto um acordo para que ele, Dias, não denunciasse as irregularidades.
Segundo o ministro, o policial militar teria feito “insinuações de denúncia” às quais Silva disse que respondeu da seguinte maneira: ““Se há o que denunciar, que faça, que prove ao Ministério Público, à Justiça, á imprensa. Faça e prove o que diz””.
Orlando Silva também rejeitou a suspeita de que um suposto esquema de desvio de verba no ministério atenderia a interesses do partido dele, o PC do B. “É uma irresponsabilidade a segunda acusação de esquema eleitoral para beneficiar meu partido, Quero rechaçar essa segunda falácia””, afirmou.
OS PRINCIPAIS PONTOS DE DEFESA DO MINISTRO |
– Diz que “não houve, não há e não haverá” provas contra ele. |
– Afirma que o acusador, o policial militar João Dias Ferreira, é “desqualificado”, “criminoso” e mente. |
– Pediu à Polícia Federal, à Procuradoria Geral da República e à Comissão de Ética da Presidência que o investiguem. |
– Diz que abrirá para investigação os sigilos bancário, fiscal e telefônico. |
– Nega e classifica de “irresponsabilidade” a acusação de que o Ministério do Esporte foi usado para desviar verba pública para o partido ao qual é filiado, o PC do B. |
– Diz que é falsa a afirmação do policial de que ele, Orlando Silva, propôs um acordo para não ser denunciado. “Se há o que denunciar, que faça, que prove.” |
– Tomou a iniciativa de pedir para depor na Câmara e no Senado e apresentar explicações aos parlamentares. |
FONTE: G1