Uma vez o cantor Dorival Caymmi disse através de uma de suas canções que a baiana “Tem torso de seda, tem! / Tem brincos de ouro, tem! / Corrente de ouro, tem! / Tem pano-da-costa, tem! / Sandália enfeitada, tem!“. No entanto, além dessas atribuições, as baianas, mulheres que se dedicam à venda de acarajés, vêm mostrando ao longo do tempo que garra e persistência também são características delas.
Depois de lutarem e conseguirem, em 1998, a regularização da profissão de ‘baiana do acarajé’, essas mulheres, que sabem como ninguém a arte de produzir e comercializar o acarajé, uma das principais iguarias da culinária afro-brasileira, lutam agora pelo direito de exclusividade na venda deste típico alimento da Bahia.
Na capital Salvador, as baianas já recorrem à justiça para que a comercialização do acarajé seja proibida em lojas e supermercados. Elas defendem que o produto seja vendido somente por baianas legítimas e em tabuleiros de madeira.
A exigência tem dividido opiniões entre consumidores e comerciantes da cidade de Juazeiro, onde o acarajé também é bastante consumido, em especial na orla da cidade.
A baiana do acarajé Anete Ferreira (40), conhecida como Ana do Acarajé, trabalha com a comercialização do produto há 14 anos. Na opinião dela, a exigência das baianas de Salvador é importante para preservar a cultura da Bahia.
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“O acarajé foi tombado como patrimônio histórico de Salvador. Se ele não for vendido no tabuleiro de madeira, acaba perdendo a sua essência cultural, típica do nosso estado”, enfatizou a comerciante, que justifica não usar, diariamente, adereços de ‘baiana do acarajé’, como colares, saias e túnicas, geralmente brancas, em decorrência do calor que faz na cidade de Juazeiro.
Já para Leoneide Alcântara (53), comerciante de acarajé há mais de dez anos, a preservação cultural deve ser repensada, em virtude da modernização. “Um dia me vesti de baiana e vendi acarajé no tabuleiro, mas a gente tem que pensar que as coisas estão se modernizando e a gente tem que acompanhar as mudanças. Por isso, não vejo mais necessidade em usar os adereços de baiana e o tabuleiro”, pontuou.
Leoneide acrescenta ainda que é injusto que a comercialização do acarajé não seja livremente permitida. “A venda dessa iguaria passou a ser uma forma de sobrevivência ou uma renda a mais para muitos. Quer dizer que, por causa de uma tradição as pessoas vão deixar de lucrar? Isso é injusto”, opinou a comerciante.
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Entre os consumidores, as opiniões também são diversas. O camelô Bartolomeu Moraes (52) enfatiza que a venda do acarajé deve ser proibida em lugares em que não há uma baiana e um tabuleiro por perto.
“O acarajé fica melhor quando é feito por uma baiana, para ser vendido logo depois que sair do tabuleiro. Sem contar que, quando outros estabelecimentos comercializam essa receita da culinária baiana, tira a renda que deveria ser de uma baiana”, argumenta.
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“O acarajé deve ser vendido em qualquer lugar, mesmo que seja em uma loja ou supermercado. Se fosse assim, não se poderia vender sorvete em farmácia, por exemplo”, comentou a cozinheira Meire Lúcia (48), finalizando que respeita a luta das baianas do acarajé, mas, “seja onde for vendido, o acarajé sempre fará parte da culinária baiana”.
Por Kelly Ferreira
Fotos: Cristina Duarte