Tão importante quanto o teste do pezinho, o exame do reflexo vermelho em recém-nascidos, conhecido como “teste do olhinho”, rápido e indolor, é fundamental para o diagnóstico de doenças congênitas ainda na fase inicial. Em alguns estados brasileiros o exame é obrigatório nas maternidades e também foi incluído no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS). Mas ainda não conquistou a obrigatoriedade nacional.
Quatro a cada dez casos de cegueira infantil, conforme o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), são reversíveis ou evitáveis com o diagnóstico e tratamento adequado. O teste do olhinho deve ser realizado em todos os recém-nascidos, antes que o bebê deixe a maternidade. Médicos de qualquer especialidade devem ser capazes de identificar alteração do reflexo de luz no fundo do olho e detectar precocemente diversas doenças, declara a oftalmopediatra do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Dorotéia Matsuura (CRM 9146/DF).
O teste consiste na emissão de um feixe de luz no olhinho do recém-nascido. Quando não há nenhum obstáculo à visão, a luz alcança a retina, região nobre do olho, responsável por captar as imagens que se formarão no cérebro e, ao ser refletida, faz com que o médico ou o examinador veja seu reflexo vermelho. “Sem o reflexo vermelho, há evidência de que pode haver alguma alteração congênita na visão do bebê”, descreve a médica do HOB.
Em tempo – As irregularidades oculares que podem ser detectadas e ter suas mais sérias consequências evitadas a partir dos poucos segundos de duração do teste do olhinho são especialmente: catarata e glaucoma congênitos, má formação ocular, opacidades na córnea, tumores intraoculares ou hemorragias vítreas, elenca a oftalmopediatra.
A OMS aponta ainda que 500 mil crianças ficam cegas todos os anos e a maioria perde a visão no primeiro ano de vida. No Brasil, segundo a entidade, há cerca de 33 mil crianças cegas em consequência de doenças oculares que poderiam ser evitadas ou tratadas precocemente. Outras 100 mil apresentam alguma deficiência visual. A OMS relata que entre os problemas que causam a cegueira nas crianças, estão as cicatrizes corneanas, catarata e glaucoma congênitos, retinopatia da prematuridade, erros de refração e baixa visão.
É lei – A especialista do HOB comenta que muitos pais não conhecem o teste do olhinho, nem a lei que obriga sua realização ainda na maternidade em várias Unidades da Federação, entre os quais o Distrito Federal e, por isso, não exigem sua realização antes de deixar o hospital com o bebê.
Sinais – Os olhos dos bebês emitem sinais quando algo precisa ser investigado. Os pais precisam estar atentos, orienta Dorotéia. “Até dois anos de idade, o bebê que apresenta lacrimejamento constante, fotofobia (sensibilidade à luz), olhos com cor acinzentada ou opaca, pouco interesse pelo ambiente em que está ou pelas pessoas que o rodeia, bem como vermelhidão ocular e secreção deve ser levado a um especialista com urgência”, alerta a médica e acrescenta “mesmo que tenha realizado o teste do olhinho na maternidade”.
As crianças que têm entre três e sete anos de idade já apresentam sintomas diferentes. “É importante obervar se a criança tomba muito para um lado só, se reclama de dor de cabeça ou nos olhos, se costuma assistir televisão muito próxima à tela, se apresenta olhos desviados para o nariz ou para fora, se tem hábito de esfregar os olhos após algum esforço visual ou se fecha um dos olhos em locais ensolarados”, diz a especialista do HOB.
“Em geral até os sete anos de idade os olhos humanos estão em desenvolvimento. Cabe aos pais, babás, professores e responsáveis ficarem atentos ao comportamento da criança”, completa a médica.
Aprendizagem – Em idade escolar, o baixo rendimento em sala de aula, diagnósticos de déficit de atenção ou hiperatividade podem estar relacionados a problemas oftalmológicos e não propriamente às condições intelectuais da criança. Dor de cabeça, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos após as aulas são sinais suficientes para uma avaliação da saúde ocular da criança. “Esses sintomas podem estar refletindo anomalias oculares congênitas não diagnosticadas na maternidade. Por essa razão, o teste do olhinho é extremamente importante para o desenvolvimento social e intelectual integral de uma criança”, defende Dorotéia.
Legislação – O Distrito Federal e outros 11 estados brasileiros possuem legislação própria que obriga maternidades, públicas ou privadas, a realizarem o teste do olhinho nos bebês antes da alta hospitalar. Os estados são Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
No Senado Federal, tramita o Projeto de Lei 240/2007 que visa alterar a Lei 8.069 que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente para tornar obrigatório o teste do olhinho em todo território nacional. O projeto é de autoria do senador Paulo Paim (PT/RS) e, desde o novembro de 2011, encontra-se a espera de um relator, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal.