Caro leitor, talvez imagine que esta crônica não deveria ir ao jornal. Estou procedendo assim com uma finalidade: extrair do meu peito uma dor. Ou um vazio. Ou ainda como desabafo. Contra quem? Não sei. Pode ser até uma provocação à natureza. Já não aguento mais voltar ao pretérito. Já não suporto ver sombra onde deveria ver claridade; lembrar-me de sofrimentos, onde deveria ter boas recordações; sonhar sem poder dormir e dormir sem poder sonhar com meu irmão (Epitácio), que partiu como um raio de luz, para nunca mais voltar. Que me perdoe Deus, pois não quero, não posso, não devo e não tenho o direito de interrogá-Lo. Mas não posso esconder-Lhe algumas perguntas: Por que uns sofrem excessivamente demais (pleonasmo)? Por que uns nascem sem “eira e sem beira”? Por que não há remédio para certas dores? Por que algumas vasilhas vazias enchem rapidamente e outras duram uma eternidade? Qual será a recompensa para os simples, honestos, pobres, sofredores? Por que alguns filhos morrem antes dos pais e outros nem os pais conhecem?
No dia 25 de agosto de 2013, voltando do cemitério de Carnaíba do Sertão, visita de 14 dias, onde Epitácio foi enterrado, a seu pedido, fitando o céu e a estrada, vi uma nuvem carregada, que não era de chuva, que me transportou para um passado longínquo, (1947) e um passado recente, (2003), vendo Epitácio com seus 13 e 68 anos respectivamente. Lá, jovem sadio, aqui idoso, maltratado pela dor e pela enfermidade. E durante este pequeno percurso recordei sua viagem para São Paulo (1952) e seu resgate no ano de 2003, como catador de papelão lá em Santos SP. Sem querer, vieram-me várias outras interrogações…
Em casa, já meio dia, no almoço, recordei-me de um conto que amenizou um pouco minha angústia – SOBREVIMENDO AO SOFRIMENTO:
“Uma mulher, desesperada com a morte do pai, procurou Buda. Pedia-lhe que a curasse da dor que tal perda provocava.
– A cura é simples – disse Buda – Chá com semente de mostarda.
Mas tranquila, a mulher se preparava para ir ao mercado comprar as sementes, quando Buda advertiu:
– Mas as sementes têm que ser colhidas no jardim de uma casa, onde seus habitantes nunca tenham perdido alguém que amam.
Dois anos depois, a mulher voltou. – Então encontrou as sementes de mostarda? Perguntou Buda.
– Eu estava fechada em minha dor e não entendia que a morte é parte da vida – disse ela. Mas descobri que tal jardim não existe; todo mundo já perdeu uma pessoa querida. E todos sobreviveram ao sofrimento. Meu coração está em paz. Sei que posso conviver com a dor e seguir adiante”.
Esta lição foi muito importante para mim e espero que seja para você leitor. Mas, mesmo assim, continuo com algumas das interrogações.
MAGOM – Contabilista, Administrador de Empresa e membro do Lions.