Nas cidades do Sertão que viraram canteiros de obras da transposição do Rio São Francisco e da ferrovia Transnordestina, o assunto é prosperidade. Em dia de feira o centro de Custódia ferve e os moradores da Zona Rural circulam com mais frequência. De acordo com o agricultor Lucenildo Torres Campos, o sertanejo está deixando de sair da cidade para trabalhar em outros estados. “Mudou muita coisa. A gente corria para ganhar a vida em São Paulo e hoje estamos aqui”, conta.
O mercado imobiliário, que iniciou uma arrancada há dois anos, segue firme e a economia aquecida. “Tem muita gente em Custódia e o pessoal que veio de fora está investindo na cidade como compra de lote, construção de casas, comércio”, diz Raoni Barbalho, comerciante. Mas não foram todos os setores que atravessaram com tranquilidade esses últimos três anos, quando as obras estiveram no auge e depois chegaram a ficar lentas e até a parar em alguns trechos. Com entra-e-sai de empresas, quem oferece produtos e serviços nas cidades onde passam as obras da transposição também sofre.
A construção dos canais que passam por Cabrobó, também no Sertão pernambucano, trouxe para o município muita gente de fora que passou a consumir. Edmilson de Sá abriu um restaurante em Salgueiro quando a cidade estava lotada de trabalhadores de várias partes do Brasil. Viu a clientela mudar, mas seguiu em frente. “A gente conseguiu pagar as contas, temos novos clientes da cidade e de fora. Consegui comprar uma casinha e estamos bem, trabalhando e crescendo”, diz o comerciante.
Um hotel à margem da BR-232 está lotado de funcionários da construtora da ferrovia Transnordestina. O dono, que está aumentando o tamanho do restaurante, no térreo, acha melhor não ampliar o hotel. Teme que, com o fim das obras no Sertão, descubra que ele ficou grande demais para a região. “Eu já tenho 70 apartamentos e acho que quando a empresa entregar tenho uma demanda boa”, explica José Pedro de Melo, comerciante.
Já o proprietário de um self service tem investido em novos pratos para o cardápio. “A concorrência vem aumentando e vem diminuindo um pouco a clientela, mas a gente continua oferecendo o mesmo padrão e vai trazendo todo mundo de volta”, acredita Júlio César, dono do restaurante Salgrill. Outro dono de restaurante fez uma ampliação para atender as empresas para as quais chegou a oferecer 240 refeições por dia. Já no ano passado, não vendeu praticamente nada. Agora foi contatado por uma construtora que está chegando para retomar as obras que estavam paradas. Mas está preocupado com o que virá depois. “Faz a obra, traz gente de fora, a cidade aumenta o movimento com a obra e depois vai restar o que pra gente?”, pergunta André Guerreiro, proprietário do restaurante.
A construção dos canais, das barragens, das estações de bombeamento que vão possibilitar que a água seja levada do Rio São Francisco para doze milhões de pessoas no interior de Pernambuco, da Paraíba, do Ceará e do Rio Grande do Norte, deve ficar pronta até o fim de 2015, de acordo com o Ministério da Integração Nacional.